quarta-feira, 14 de julho de 2010

Caça as Bruxas à brasileira


Na antiguidade mulheres consideradas bruxas, por manterem em segredo poderes mágicos, reuniões secretas, o abuso da sensualidade e sedução e até mesmo por saberem ler foram atiradas a fogueira acusadas de feitiçaria e adoração ao diabo.
Essa prática permanece no decorrer da história até a atualidade em todo mundo. Mulheres executadas muitas vezes por seus respectivos companheiros. Abatidas por amar demais, ou de menos.
A mídia divulga tantas notícias sobre violência contra as mulheres, para alguns, causa certa histeria coletiva, para outros uma normalidade bizarra. A realidade é que isso sempre aconteceu, mas não era considerado o assunto da vez.
Há espaço para piadinhas funestas, como por exemplo, não termine com seu companheiro se quiser continuar viva, mate-o antes. Ou até mesmo, não se assuste se passando os olhos por um classificado de jornal deparar com anúncios do tipo, se quiser despachar sua companheira agende qual a represa do seu interesse, só com hora marcada. Compre já o seu manual como livrar-se do corpo de sua companheira problema.
Teste de paternidade então pense três vezes antes de pedir para o suposto pai.
Chocado caro leitor?A realidade choca, mas para nós brasileiros também rende boas piadinhas e até mesmo lucros. Talvez porque o nosso povo sofrido sempre conseguiu extrair da dor um sorriso e quem sabe um dinheirinho extra, para complementar um salário de fome.
Tomo como exemplo o assunto da vez, a morte de duas jovens lindas que vem estampando capas de jornais e revistas e programas de TV.
Uma das jovens, bem sucedida, família respeitada e unida. No outro extremo, uma jovem também bela, mas com uma história truncada, com pinceladas de abandono e família desestruturada, tendo que defender o seu pão na cidade grande, com sonhos de fama e dinheiro e porque não um amor de conto de fadas.
Essas jovens provavelmente nunca se encontrariam em vida, mas de certa forma agora estão unidas, por uma história em comum, a violência contra a mulher.
Quantas mulheres já foram abatidas em nosso país?Muitos nomes e rostos já foram apagados pelo tempo, Elizas, Marias, Angelas, Joanas e tantas outras. Na faculdade fiz um trabalho de pesquisa sobre a "Pantera de Minas" Angela Diniz assassinada pelo amante Doca Street, em 1976. Ela era uma mulher de posses e de vida independente. Abusava do seu poder de sedução, e foi condenada a morte por seu companheiro, e quando o caso foi julgado, a sua dignidade foi exposta a opinião pública, como se fosse à responsável pelo seu fim, a sua liberalidade assustava a sociedade da época.
Nada mudou porque a jovem desaparecida, supostamente assassinada a mando de um atleta famoso, vem sendo acusada de ser livre demais, ter atividades suspeitas com jogadores e filmes adultos, que já podem ser encontrados em qualquer barraca de camelo com fotos do jogador na capa.
Provavelmente a defesa vai tentar desqualificar a vítima por seu estilo de vida. Não importa quem foi essa jovem. Todo ser humano tem direito a vida, ela não era melhor e nem pior que cada um de nós que cometemos erros todos os dias. Família e amigos sofrem com a sua ausência. Não haverá um túmulo, para seu filho daqui alguns anos possa depositar uma flor ou até um lugar preferido onde suas cinzas fossem lançadas em oração.
Há dor, ausência, um órfão com destino incerto e outras Elizas, Marias, Angelas, Joanas atiradas à fogueira da vaidade de homens desprovidos de sentimento, os quais não suportam a negativa de uma mulher.
Como sociedade, nós devemos questionar quais valores queremos deixar para nossos filhos, e tomar cuidado com preconceitos, idéias pré-estabelecidas. É momento de clamar por leis mais justas, e um olhar mais humano ao nosso semelhante, independente de questões morais, religiosas e socioeconômicas.
Somos todos "Um", não precisamos de uma sociedade machista ou feminista mais igualitária respeitando as diferenças.
Como mulher trago o luto no peito e o grito preso na garganta. Termino aqui esse desabafo, recordando da canção Maria, Maria... Composta por Milton Nascimento e Fernando Brant.
Maria, Maria É um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece Viver e amar
Como outra qualquer Do planeta...
Lu Port-aux