domingo, 22 de março de 2009

Atriz

Fim do terceiro ato. Cerram-se as cortinas e ainda é possível ouvir os aplausos ecoando pela coxia, corpos esbarrando; breu total; suor frio; respiração ofegante; uma sensação de dever cumprido, adrenalina nas alturas. Graças!Um facho de luz, tateando pelo corredor até onde há técnicos, atores; risadas; conversas e tapinha nas costas. Um torpor toma conta do corpo em êxtase sensação de estar outro plano a distância de tudo e todos.
Camarim. Bagunça geral, roupas espalhas pelo chão; sacolas; bancada com maquiagens; cinzas de incenso; uma taça de vinho pela metade; uma garrafa de água morna, no assento da cadeira uma peruca... Ai! Embaixo dela um alfinete.
Graças!O demaquilante, algodão e espelho. Espanto! o rosto da personagem ou da atriz?
As duas se fundem, até que com o algodão embebido no liquido cheiroso sendo espalhado pela pele. Reconheço o rosto da atriz.
Começo sentir meus pés pisando o chão, as vozes lá fora ficam mais claras e conhecidas. Percebo que não estou só no camarim, a atriz voltou; e com ela a dor de estômago, isso a personagem poderia ter levado com ela ao final do espetáculo.
Procuro em meio à bagunça um pacote de biscoito. Encontro, claro... A embalagem do mesmo. Peço um pedaço do sanduíche do colega ao lado, devoro tomando o vinho.
Começo a me sentir solitária, tomo uma ducha e recolho meus pertences do camarim. Coloco o figurino no cabide da mesma forma que a personagem toma minhas dores, frustrações; medos; inseguranças; fome; TPM deixa em um canto qualquer da coxia; ascende às luzes, abre as cortinas e pede licença aos “deuses do teatro”... e diz: cumpre o seu sacerdócio.
Dedico às personagens, que me levam ao arrebatamento.
Foto e texto: autoria Luciana Port-aux - qualquer interesse nos direitos autorais.



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